quinta-feira, 8 de julho de 2010

Bioindicadores de Qualidade de Água

O QUE SÃO BIOINDICADORES?

Bioindicadores são espécies, grupos de espécies ou comunidades biológicas cuja presença, abundância e condições são indicativos biológicos de uma determinada condição ambiental. Os bioindicadores são importantes para correlacionar com um determinado fator antrópico ou um fator natural com potencial impactante, representando importante ferramenta na avaliação da integridade ecológica (condição de “saúde” de uma área, definida pela comparação da estrutura e função de uma comunidade biológica entre uma área impactada e áreas de referência).
Os bioindicadores mais utilizados são aqueles capazes de diferenciar entre oscilações naturais (p.ex. mudanças fenológicas, ciclos sazonais de chuva e seca) e estresses antrópicos.


MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS SÃO BONS BIOINDICADORES
Os macroinvertebrados bentônicos têm sido amplamente utilizados como bioindicadores de qualidade de água e saúde de ecossistemas por apresentarem as seguintes características:

· Ciclos de vida longo, comparando-se com os organismos do plâncton que em geral tem ciclos de vida em torno de horas, dias, 1 ou 2 semanas; os macroinvertebrados bentônicos podem viver entre semanas, meses e mesmo mais de 1 ano, caracterizando-se como "organismos sentinelas";

· Em geral, são organismos grandes (maiores que 125 ou 250 µm), sésseis ou de pouca mobilidade, ou seja, são relativamente sedentários e mais fáceis de serem amostrados do que os organismos nectônicos, como os peixes;

· Fácil amostragem, com custos relativamente baixos;

· Elevada diversidade taxonômica e de identificação relativamente fácil (ao nível de família e alguns gêneros);

· Organismos sensíveis a diferentes concentrações de poluentes no meio, fornecendo ampla faixa de respostas frente a diferentes níveis de contaminação ambiental.

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (U.S Environmental Protection Agency-USEPA) recomenda a utilização de critérios biológicos (que utilizam a condição de um organismo ou conjunto de organismos para descrever a integridade ecológica de uma área impactada, pouco impactada, ou áreas de referência), para complementar as informações sobre qualidade de água, tradicionalmente baseados em parâmetros químicos e físicos. A utilização dos bioindicadores é uma medida integrada e atualizada de todos os estresses ambientais, mais eficientes do que inferências biológicas de comparações de valores obtidos em ensaios em laboratório de medidas instantâneas no campo ou contaminantes similares.

Após a coleta de informações dos bioindicadores, a etapa seguinte é a integração de dados mensuráveis (p.ex. estimativas de densidade, contagem de espécies) e a combinação de variáveis na proposição de índices adequados para avaliar as condições ambientais em estudo.

PROGRAMA DE BIOMONITORAMENTO
O termo biomonitoramento, ou monitoramento biológico, pode ser definido como o uso sistemático de respostas biológicas para avaliar mudanças ambientais com o objetivo de utilizar esta informação em um programa de controle de qualidade. Estas mudanças normalmente estão associadas a fontes antropogênicas. Macroinvertebrados bentônicos têm sido utilizados no monitoramento de reservatórios, trechos de importantes bacias hidrográficas sob diferentes níveis de impacto antrópico. O princípio é simples: submetidos a condições adversas, os organismos resistem ou morrem. Portanto, a composição em espécies e a distribuição espaço-temporal dos organismos aquáticos alteram-se pela ação dos impactos. Quanto mais intensos forem, mais pronunciadas serão as respostas ecológicas dos organismos aquáticos bioindicadores de qualidade de água, podendo haver inclusive a extinção local, ou seja, exclusão de organismos sensíveis à poluição (como as formas imaturas de muitas espécies de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera).

Programas de Biomonitoramento são desenvolvidos em etapas e utilizam-se de métodos úteis na avaliação da eficiência de estações de tratamento de esgotos e subseqüentes lançamentos em corpos d’água, impactos de assoreamentos, chuva ácida, práticas agrícolas, remoção de vegetação ciliar nas margens de rios e efeitos na introdução de espécies exóticas sobre populações naturais.

Muitos macroinvertebrados bentônicos são detritívoros, alimentando-se de matéria orgânica produzida na coluna d’água. Estes organismos são importantes componentes na dieta de peixes, representando importante ligação entre a produção pelágica e os níveis tróficos superiores na ambiente aquático. Em programas de biomonitoramento é usual avaliar as necessidades ambientais de todas as espécies de um determinado conjunto de organismos. Um exemplo é a classificação dos grupos tróficos funcionais (GTF ou “guildas”) de espécies e ciclos de vida. Os GTF representam espécies com estratégias reprodutivcas similares, hábitos alimentares e/ou preferência de habitats específicos (Callisto et al., 2001).

Para avaliar as conseqüências da poluição sobre os ecossistemas aquáticos continentais são necessários vários tipos de informações. Programas de biomonitoramento são os mais indicados para detectar o nível de comprometimento da vida aquática e avaliar o nível de degradação ambiental. Uma vez diagnosticado o nível de degradação, dados ecológicos adicionais podem ser incorporados, como testes ecotoxicológicos com poluentes químicos, capazes de auxiliar na identificação dos agentes poluidores, suas fontes, subsidiando a implementação de medidas mitigadoras. Integrando as informações destes dados assim como a avaliação da diversidade de habitats, investigações hidrológicas e a caracterização do uso e ocupação do solo possibilita o diagnóstico ambiental dos impactos dos 5 principais fatores que afetam a saúde ambiental em ecossistemas aquáticos (qualidade da água, estrutura de habitat, fonte de energia, regime fluviométrico e fatores de integração biótica).

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